Até recentemente, a expressão “alimentos funcionais” estava restrita ao círculo de iniciados no assunto, em especial profissionais das áreas de saúde e nutrição. Desde o final do século passado, o tema migrou dos laboratórios e congressos científicos para a mídia e, em pouco tempo, a discussão sobre alimentos funcionais e nutracêuticos ganhou espaço junto à sociedade.
O fenômeno não é isolado e nem aconteceu por casualidade. Ele está inserido numa profunda mudança de hábitos e costumes, uma revolução social que mudou os eixos de poder ao longo dos últimos 20 anos. A História ainda não cunhou uma expressão definitiva para designar o fenômeno que, nos Estados Unidos, é tratado genericamente como “consumer empowerment” ou “power to the people”. Entre nós, significa que o cidadão tornou-se mais consciente de seus direitos e exigiu para si parcela do poder de decisão sobre os hábitos de consumo, tendo como foco uma vida mais saudável. Inserem-se nesse contexto as exigências de qualidade e de inocuidade dos alimentos, um comportamento nascido na Europa, que rapidamente se espalhou nos demais países do mundo.
Os dois conceitos mais aceitos são “Alimentos semelhante em aparência aos convencionais, consumidos como parte da dieta, que produzem benefícios específicos à saúde, além de satisfazer os requerimentos nutricionais” e “alimentos, em forma natural ou processada, contendo níveis significantes de componentes ativos biologicamente que, além da nutrição básica, trazem benefícios à saúde, à capacidade física e ao estado mental”.
Para ilustrar, consideremos o exemplo do arroz. O arroz integral possui um processamento mínimo, que mantém incólumes as substâncias que compõem o grão. Assim, o arroz integral possui alto teor de fibras - importantes para a regulação intestinal e da taxa do colesterol sanguíneo, de fitatos – que protegem o organismo da ação tóxica de metais pesados, de ácidos graxos insaturados, além das proteínas e vitaminas. Já o arroz processado perde a maioria destas substâncias durante a industrialização. Portanto, o arroz integral pode enquadrar-se na categoria de alimento funcional, o mesmo não ocorrendo com o arroz processado.
O uso de alimentos funcionais ganhou impulso no início dos anos 80, como parte de um programa de redução dos custos de seguro saúde no Japão, tendo em vista o aumento sustentado da esperança de vida da população. Em consequência, o perfil dos segurados passou a apresentar idade média crescente, sendo mais vulneráveis a determinadas doenças e distúrbios de saúde.
Para reduzir as despesas com medicamentos, foi implantado um programa denominado FOSHU (foods for specified health use), em que os alimentos deveriam ser baseados em ingredientes naturais; serem consumidos como parte da dieta alimentar; e cumprirem funções específicas no organismo, como:
O programa FOSHU é administrado pelo Ministério da Saúde e Bem Estar do Japão, em cujo registro constam mais de 100 produtos com característica de alimento funcional (bit.ly/43pwuZd).
Embora já fossem consumidos no Ocidente, a partir da experiência do programa japonês, os alimentos funcionais ganharam um impulso extra, que aumentou sua demanda em todo o mundo, a qual deve crescer a taxas ainda mais altas nos próximos anos.