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A 150 km POR HORA


Aparentemente, as duas grandes discussões da Rio+20 tendem a ser: mudança climática e economia verde. Isso faz repensar o modo de se fazer (bem) as coisas, colocando as pessoas e o planeta em foco, o que, talvez, signifique rever a ideologia e a arquitetura do crescimento, principalmente nos aspectos em que o PIB é alimentado pelo desperdício.

Na época da ECO 92, por exemplo, a frota mundial de veículos era de 613 milhões e hoje ultrapassa 1 bilhão. No Brasil, era de 13 milhões e quase triplicou em 20 anos, chegando a 35 milhões de veículos. Enquanto isso, a emissão de CO2 no mundo não parou crescer, estabilizou em 2010 (atribuída, principalmente, à crise mundial) e hoje atinge o patamar de 30,6 gigatoneladas.

No mesmo período, a população mundial saiu de 5 para 7,5 bilhões de pessoas, e só no Brasil avançou de 146 para 200 milhões. Uma imensidão de seres para alimentar – desafio que vem sendo enfrentado, em nosso país, com uma busca pela sustentabilidade da produção de alimentos e energia verde.

De 1992 a 2012, por exemplo, a produtividade média brasileira por unidade de área aumentou 72% no cultivo de milho, 48% na soja, 44% no arroz e 64% no trigo. O consumo de diesel no campo recuou 66%, com uma economia de 1,34 bilhão de litros por safra, evitando-se a emissão de 3,59 bilhões de kg de CO2. Em 1992, com 1 litro de diesel produzia-se 25 kg de milho, soja ou trigo; em 2012, com o mesmo combustível, estão produzindo de 105 a 175 kg desses grãos¹.

Com a explosão da ciência e tecnologia, sobretudo no último século, nossa capacidade de extrair do planeta multiplicou-se. Usamos o que bem se entendeu dos recursos planetários e construímos um modelo de sociedade de consumo no qual um brasileiro pobre talvez tenha mais impacto do que D. João VI sobre o ambiente – e o mesmo talvez aconteça com um pobre da Rússia atual, em relação aos czares. 

Se os riscos ambientais são crescentes, ou fazemos algo revolucionário agora ou esperamos um cenário (no momento improvável) de estabilização da população e do consumo de matérias-primas e energia. Tudo isso, com um fator político imponderável: explicar para os mais de 5 bilhões de pobres  ou emergentes que o mundo pede “pé no freio” no modelo atual.

Para a grande maioria deles, isso soa como cantilena, pois buscam isonomia de consumo e de bem-estar. Não querem saber de se excluir do sonho consumista, enquanto cerca de 1 bilhão de consumidores -- nos países desenvolvidos – absorvem mais de 50% do que o planeta nos proporciona.

Muitos perguntarão: mas por que investir em economia verde é melhor?  Provavelmente, não há ainda uma resposta econométrica taxativa e absoluta para essa pergunta. Mas uma das razões plausíveis está no fato de que podemos estar esbarrando nos limites do planeta.

Há um tempo, falava-se que um aquecimento global de 2 graus era o limite que o homem conseguiria administrar, mesmo assim investindo 1% do PIB mundial em medidas reparadoras. Hoje, segundo alertas feitos durante o IX Diálogos Sustentáveis², já apresentamos um aquecimento global de 3 graus, na janela de duas décadas.

Nossa consciência cidadã e o instinto de espécie podem estar se perguntando, secretamente: vai mesmo acontecer? A partir de quando não vai dar mais? Quanto vai custar evitar isso? Qual o principal problema: a mudança climática, o ataque à biodiversidade ou os bilhões de pessoas para tirar da pobreza?

Nossas gerações – dos  baby boomers à geração y – nunca imaginaram que veriam isso acontecer, ou que estariam frente a frente com esse dilema.  É como entrar a 150 km por hora em uma curva sinalizada com placa para 100 km/hora. Acho que devemos chegar na Rio+20 pelo menos com essa consciência, para então discutir o futuro da nave Terra.

 

Dados consolidados pelo eng. agrônomo Dirceu Gassen, gerente técnico da Cooplantio e membro do CCAS -- Conselho Científico para Agricultura Sustentável.
IX Diálogos Sustentáveis – O Pensamento Econômico e os Limites dos Processos Naturais. Encontro preparatório à Rio + 20, organizado pelo Funbio, institutos Arapyaú, Vitae Civilis e Climate Works. Abril de 2012. 


Autoria: Coriolano Xavier

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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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