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Agora Inês é morta - a sustentabilidade da agricultura brasileira ameaçada


Agora Inês é morta - a sustentabilidade da agricultura brasileira ameaçada

Há um ano no Fórum da Abag, em Piracicaba (SP), diante de uma seleta plateia, tive a oportunidade de chamar a atenção para as implicações da concentração geográfica da produção agropecuária, citando, entre elas, a ocorrência de pragas e doenças. Um exemplo destacado foi a enorme concentração da cultura do algodão no oeste baiano, região de Barreiras, onde são produzidos em torno de 25% do algodão nacional. O mesmo tipo de alerta, citando outros produtos agropecuários, foi dado em outros artigos nossos na mídia.

O Brasil ocupa posição de destaque na produção agroindustrial. Os diversos elos das cadeias produtivas da agricultura brasileira respondem por volta de um quarto do PIB (Produto Interno Bruto), garantem o superávit da balança comercial ano após ano e são responsáveis pela geração de mais de um terço dos empregos no país. Além do incremento da produção ter sido baseado, em grande parte, no aumento da produtividade, o que poupa terra, no sentido contrário ao desmatamento. Como exemplo, entre 1950 e 2006, ganhos de produtividade na pecuária brasileira pouparam 525 milhões de hectares. Importância incontestável, portanto.

A sustentabilidade da nossa agricultura, nos pilares econômico, social e ambiental, depende da produção primária e a ocorrência de problemas fitossanitários pode comprometer essa produção. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) apontam que as pragas reduzem, em média, 40% do que se produz na agricultura no mundo. Quando se pensa na necessidade de aumento da produção de alimentos no mundo e, particularmente, no Brasil, a ameaça das pragas apresenta-se de maneira clara e contundente.

Estudos mostram que dez novas pragas estão na iminência de entrar no país e que em torno de 600 espécies de pragas quarentenárias (que ainda não estão no país ou ocorrem em regiões delimitadas) têm potencial de causar danos significativos à agricultura brasileira, com as implicações para o Brasil e o mundo que daí advém.

Essas pragas podem chegar ao Brasil, vindas de países vizinhos, através das nossas fronteiras, ou mesmo de países distantes, chegando pelos portos e aeroportos. A proximidade dessas vias de acesso expõe algumas das nossas lavouras e criações, da mesma forma que a concentração geográfica de alguns rebanhos e produtos da nossa agropecuária facilita a proliferação de pragas introduzidas (passiva ou ativamente) e potencializa os danos.

De alguns meses para cá estamos lidando com os prejuízos causados pela lagarta Helicoverpa, que foi inicialmente detectada, onde? Em lavouras de algodão na região de Barreiras (BA). Hoje essa praga é problema, um grande problema, em outras culturas agrícolas e em outras regiões do país. Poderíamos dizer que “agora Inês é morta”.

Na verdade, agora temos muito o quê fazer, mas reagindo, infelizmente. Até quando vamos reagir? Precisamos melhorar nossa capacidade de antever e agir preventivamente a ameaças de pragas e, diante da dinâmica da agropecuária no espaço geográfico e ao longo do tempo, a gestão dos riscos fitossanitários e zoossanitários, em base territorial, torna-se imprescindível.


Autoria: Cláudio Spadoto

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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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