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Doença de Parkinson e Paraquat: Quais Evidências Científicas determinaram seu banimento no Brasil?


Por Angelo Zanaga Trapé, Professor-doutor aposentado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

O banimento do herbicida Paraquat determinado pela ANVISA em 2020 foi tomada baseada no chamado “Princípio de Precaução”   que  “ permite aos poderes públicos a adoção de medidas restritivas de direitos fundamentais das pessoas e empresas com fundamento na eventualidade de criação de riscos futuros e incertos para o ambiente e a saúde humana caso a atividade seja autorizada ou um certo produto seja introduzido no mercado”.

A fundamentação foi baseada em estudos epidemiológicos e experimentais em animais não tendo nenhum estudo clínico que apresentasse trabalhadoras(os) com níveis residuais em seus organismos detectados por marcadores biológicos e com sinais e sintomas de Doença de Parkinson.

A relação estabelecida deve-se ao fato de que a molécula do Paraquat tem uma estrutura similar a um contaminante da heroína(droga de abuso) a MPTP cuja ação se dá na substância negra no cérebro lesando neurônios dopaminérgicos que determinam alterações motoras do tipo parkinsonismo e também podem evoluir para a Doença de Parkinson.

Os estudos experimentais foram os seguintes:

1.         Estudo em Camundongos (2000): Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Rochester demonstrou que camundongos expostos ao paraquat desenvolveram sintomas semelhantes à Doença de Parkinson, incluindo a perda de neurônios dopaminérgicos na substância negra do cérebro, uma característica chave da doença. Este estudo foi um dos primeiros a sugerir que o paraquat poderia ser um agente neurotóxico que mimetiza a Doença de Parkinson em modelos animais.

2.         Estudo em Camundongos (2003): Pesquisadores da Universidade de Duke realizaram um estudo onde camundongos foram expostos a uma combinação de paraquat e maneb (outro pesticida). Eles observaram que essa combinação causou uma perda significativa de neurônios dopaminérgicos e diminuição dos níveis de dopamina no cérebro, imitando ainda mais as condições observadas na Doença de Parkinson. Este estudo sugeriu que a interação entre diferentes pesticidas pode amplificar o risco de neurodegeneração.

3.         Estudo em Ratos (2005): Um estudo conduzido na Universidade de Miami mostrou que ratos expostos ao paraquat desenvolveram estresse oxidativo e dano mitocondrial em neurônios dopaminérgicos, ambos processos intimamente ligados à patogênese da Doença de Parkinson. Este estudo forneceu mais evidências de que o paraquat pode causar neurodegeneração através de mecanismos relacionados ao estresse oxidativo.

4.         Estudo em Camundongos Transgênicos (2010): Pesquisadores usaram camundongos transgênicos que expressam a proteína alfa-sinucleína humana, uma proteína que se acumula em agregados anormais em cérebros de pacientes com Parkinson. A exposição ao paraquat nesses camundongos levou ao aumento da agregação de alfa-sinucleína e à degeneração dos neurônios dopaminérgicos. Isso sugeriu que o paraquat poderia promover a patogênese do Parkinson através da exacerbação dos agregados de alfa-sinucleína.

Esses estudos fornecem fortes evidências de que a exposição ao Paraquat pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da Doença de Parkinson em humanos, embora a extrapolação direta dos resultados de estudos em animais para humanos deva ser feita com cautela.

Em relação aos estudos epidemiológicos os principais foram:

Tanner, C. M., et al. (2011). "Rotenone, paraquat, and Parkinson's disease."

Journal: Environmental Health Perspectives

Resumo: Este estudo epidemiológico realizado nos Estados Unidos examinou a relação entre a exposição a pesticidas, incluindo paraquat, e o desenvolvimento da Doença de Parkinson. Os pesquisadores encontraram uma associação significativa entre a exposição ao paraquat e um risco aumentado de Parkinson, sugerindo que esses compostos podem contribuir para a neurodegeneração.

Referência: Tanner, C. M., Kamel, F., Ross, G. W., Hoppin, J. A., Goldman, S. M., Korell, M., ... & Langston, J. W. (2011). Rotenone, paraquat, and Parkinson's disease. Environmental Health Perspectives, 119(6), 866-872. 

Costello, S., et al. (2009). "Parkinson's Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat From Agricultural Applications in the Central Valley of California."

Journal: American Journal of Epidemiology

Resumo: Este estudo analisou a exposição residencial ao paraquat em áreas agrícolas da Califórnia e sua relação com o risco de desenvolver Parkinson. Os resultados indicaram um aumento no risco de Parkinson em pessoas que viviam perto de áreas onde paraquat era aplicado.

Referência: Costello, S., Cockburn, M., Bronstein, J., Zhang, X., & Ritz, B. (2009). Parkinson's disease and residential exposure to maneb and paraquat from agricultural applications in the central valley of California. American Journal of Epidemiology, 169(8), 919-926.

1.         Liou, H. H., et al. (1997). "Environmental risk factors and Parkinson's disease: A case-control study in Taiwan."

Journal: Neurology

Resumo: Este estudo de caso-controle em Taiwan investigou fatores de risco ambientais para Parkinson, incluindo a exposição ao paraquat. Os resultados apoiaram a hipótese de que a exposição ao paraquat estava associada a um risco aumentado de desenvolver a doença.

Referência: Liou, H. H., Tsai, M. C., Chen, C. J., Jeng, J. S., Chang, Y. C., Chen, S. Y., & Chen, R. C. (1997). Environmental risk factors and Parkinson's disease: A case-control study in Taiwan. Neurology, 48(6), 1583-1588.

2.         Pezzoli, G., & Cereda, E. (2013). "Exposure to pesticides or solvents and risk of Parkinson disease."

Journal: Neurology

Resumo: Este artigo revisou estudos sobre a associação entre a exposição a pesticidas, incluindo paraquat, e o risco de Parkinson. A revisão confirmou a evidência de que o paraquat é um dos pesticidas mais consistentemente associados ao aumento do risco de Parkinson.

Referência: Pezzoli, G., & Cereda, E. (2013). Exposure to pesticides or solvents and risk of Parkinson disease.

Neurology, 80(22), 2035-2041.

Conclusão

Esses estudos, entre outros,todos em animais(experimentais) e epidemiológicos, forneceram as evidências necessárias para embasar a decisão de banimento do paraquat( Princípio da Precaução), ao mostrar a possível associação entre a exposição ao herbicida e o desenvolvimento de doenças graves como o Parkinson. A análise dos dados epidemiológicos, junto com as conclusões desses estudos clínicos( não há nas referências nenhum estudo clínico), foi essencial para a avaliação do risco associado ao uso do paraquat, de acordo com a ANVISA em 2020.

Estudos experimentais e epidemiológicos são importantes fontes de dados de saúde  porém a avaliação de estudos clínicos utilizando marcadores biológicos de exposição são a base que pode determinar se os resultados encontrados nos estudos experimentais e as hipóteses levantadas nos estudos epidemiológicos estão corretas para estabelecer uma decisão adequada das agências reguladoras como a ANVISA.

Apesar do Paraquat estar sendo utilizado a décadas no país, não há nenhum estudo clínico científico que comprove os estudos experimentais e epidemiológicos sobre a relação causal de exposição ocupacional ao Paraquat e Doença de Parkinson.

 

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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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