UM DESAFIO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Os agroquímicos, defensivos agrícolas ou no Brasil chamados de agrotóxicos compõem uma tecnologia utilizada para a produção agrícola do país e no mundo. Como toda tecnologia seja química, mecânica ou automotiva é perigosa e dependendo de como elas são utilizadas podem determinar um risco que no caso dos agroquímicos é a probabilidade de uma pessoa ou população adoecer pela exposição a esses agentes.
Muito tem se falado sobre os impactos da utilização dos agroquímicos na saúde das pessoas tanto que se expõem no trabalho como na ingestão de alimentos que podem conter resíduos dos agroquímicos. Para este grupo populacional os dados de programas de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos governamentais de estados e da federação mostram uma excelente segurança não havendo níveis residuais suficientes em alimentos capazes de gerar qualquer efeito na saúde dos consumidores em geral.
Em relação aos agricultores e trabalhadores agrícolas com potencial exposição na produção dos alimentos há ainda muitas dúvidas e incertezas sobre qual é a realidade da saúde destas pessoas em relação ao uso da tecnologia agroquímica.
Os dados oficiais apresentados pelo SINITOX, Sistema Nacional de Informações Toxico farmacológicas do Ministério da Saúde aponta 1168 casos de intoxicação ocupacional com 3 óbitos em 2009 para uma população rural estimada pelo IBGE de 20 milhões de pessoas.
Há uma discussão latente que diz respeito à chamada subnotificação de casos pelos serviços de saúde públicos e privados. Os epidemiologistas chamam de “o silêncio epidemiológico das intoxicações por agrotóxicos”, ou seja para cada caso notificado muitos deixaram de ser por diversos motivos, principalmente pelo desconhecimento técnico científico por parte da grande maioria dos profissionais de saúde, especialmente os médicos, da Toxicologia dos agroquímicos.
A maior parte das escolas formadoras de profissionais de saúde não tem em sua grade curricular disciplinas de Toxicologia em especial a Toxicologia Clínica na qual se capacita o futuro médico entre outros a identificar um caso suspeito, diferenciar o que é exposição, de contaminação e intoxicação e investigar o caso e concluir se realmente o indivíduo avaliado estava ou não com algum efeito na saúde determinado pela exposição aos agroquímicos.
Fica então difícil estabelecer o que é caso, o que é somente exposição e notificar os casos confirmados gerando uma base estatística confiável. O agronegócio brasileiro, carro chefe da economia nacional, vem sofrendo fortes ataques nesse campo. Quais dados estatísticos têm hoje os diversos setores do agronegócio brasileiro em relação ao uso de agroquímicos e saúde humana? Quais programas de saúde os setores tem desenvolvido para a proteção da saúde das pessoas envolvidas na produção agrícola e potencialmente expostas a agroquímicos?
A falta de dados e a desinformação criam o ambiente propício para a disseminação de informações equivocadas para toda sociedade, como se o agronegócio fosse gerador de alimentos contaminados, agressor ambiental e causador de efeitos prejudiciais na saúde das populações seja consumidora como trabalhadora. Aqui perde a Ciência e ganha a Ideologia.
Monitorar a saúde de todas as pessoas envolvidas na produção agrícola, gerar um banco de dados com base científica que possa ser apresentado e divulgado para toda sociedade regularmente, anualmente, mostrando os resultados de avaliação clinico epidemiológica e laboratorial dessas pessoas de acordo com protocolos científicos previamente estabelecidos, este é o desafio moderno que o agronegócio brasileiro