O relaxamento de meta fiscal colocado pelo governo na mesa, na segunda quinzena de julho, jogou um banho de água fria nas expectativas de uma melhoria mais rápida de nossa economia. Agora, o ajuste fiscal pode até virar suco e cair como um tempero picante nos ingredientes que já estão no caldeirão da crise.
Aumento de desemprego, queda da renda das famílias e da massa salarial, câmbio elevado, inflação ascendente, custos mais altos, déficit de infraestrutura e perda de competitividade. No mundo o PIB deve crescer a 3,5% em média e aqui no Brasil as projeções indicam declínio de -1,7%. Estamos na contramão e essa parece que vai ser mesmo a escrita em 2015/2016.
Enquanto isso, o agronegócio continua como grande fiador da economia. Está no campo o fôlego para o pão nosso de cada dia e para um certo alívio compensatório nas contas nacionais. Mas e o produtor, como vai encarar e reagir frente a essa situação preocupante? Como vai ser a próxima safra e a produção animal? Como caminhará o comportamento do campo?
Primeiro, o sinal mais óbvio: os custos de produção devem experimentar movimentos de elevação, por conta da inflação ou do câmbio inflado, por exemplo. Mas vamos lembrar, também, que em geral o efeito dólar é maior na renda do que nos custos e, com isso, a moeda norte-americana pode tornar-se uma espécie de âncora para salvar o ano e a safra.
Ou seja, o agronegócio sendo salvo pelo dólar, que compensaria o agricultor com alguma vantagem, pois deve impactar positivamente na comercialização da maioria dos produtos em que o Brasil é um grande player – como soja, milho, carnes e citros, entre outros.
O titubeante cenário de nossa economia também sinaliza para uma menor probabilidade de saltos na produção do campo, seja por aumento de área ou melhoria de estrutura, pois nesses momentos de incerteza o planejamento torna-se mais ressabiado e conservador. Se bem que estamos vindo de um período recente com crescimento de crédito para investimentos, cuja realização ainda deve estar em curso.
Cair a tecnologia em sentido absoluto é difícil, pois uma grande parte dos produtores está com sistemas de produção estruturados e sabe que sua competitividade depende disso. Mas esses produtores podem se tornar mais seletivos em suas escolhas de pacotes tecnológicos, decidindo com um olho no custo-benefício e outro no fluxo de caixa.
Enfim, o ano é para um foco especial de micro gerenciamento das propriedades e operações, à caça de desperdícios ou buscando racionalização de processos, aumento de eficiência e redução de gastos. O caixa vira rei nos enfoques de gestão e sua saúde é um bem maior. Esqueça Brasília e concentre-se em plantar bem, cuidar bem dos planteis e fazer um resultado.
Pode até não ser aquele resultado sonhado, dadas as circunstâncias de nossa economia. Mas, como bem acentua o consultor econômico Ivan Wedekin, “lucro menor é lucro, continua sendo lucro”. E, cá pra nós, com uma taxa selic de juros a 13% ao ano, engendrada pela própria crise, isso pode até representar um residual para o bolso do produtor.