Quem diria, companheiros? Em meio a uma bruta nova Guerra Fria, onde Arábia Saudita, o maior produtor e exportador de petróleo do mundo, ao lado do aliado Estados Unidos, jogam o preço do petróleo de cálculos iniciais em torno de US$ 100.00 o barril para a casa dos US$ 60. Por um lado é um pega no Irã, segundo especialistas na análise da geoguerra do Oriente Médio, e por outro um pega na Rússia, no Putin e no tema que envolve a Ucrânia.
O rombo na economia russa fica em patamares de: recessão de 4.5% do PIB; inflação de até 15%; desvalorização da moeda rublo, perdas de 40% frente ao dólar em 2014; fuga de capitais de US$ 180 bi, e consumo das reservas internacionais. Nos alimentos, carne suína e açúcar já custam 25% a mais, comparado a janeiro de 2014, os frutos do mar, mais 15% e os importados refinados mais caros, e agora são uruguaios, Mujica também se realizou.
O Brasil a partir da guerra da Ucrânia, com o embargo dos negócios entre o bloco europeu, Estados Unidos e Austrália, vimos aumentar nossas exportações para a Rússia em 101,5% entre janeiro e novembro de 2014. Ou seja, mais do que dobramos.
A carne suína brasileira foi ao paraíso russo. Vendemos US$ 766,3 milhões (o amigo Turra deve estar muito feliz, e com razão), e isso significa algo em torno de mais de 45% de toda a produção do setor suinícola e mais de 60% do total da receita dos nossos exportadores.
Os motivos para esse crescimento e penetração das carnes do Brasil na Rússia foram: retaliações do Kremlin à indústrias alimentícias europeias; problemas veterinários gerando o embargo de importações de carne suína da Europa; e por último as decisões de boicote comercial, impostos pelos Estados Unidos, Europa e Austrália.
O mercado russo de frutas, leite, vegetais, num total de US$ 9 bilhões foram transferidos da Europa para a América Latina, o que obriga a Rússia a pagar preços mais caros. A inflação alimentar na Rússia deverá alcançar 14,5% em 2014, perante 7% no ano passado. E a carne suína, o aumento está sendo de 27%.
Porém, o Tema de Lara, filme épico russo, ou os girassóis da Rússia, as coisas não devem terminar em flores. Falsificações já cruzam os supermercados russos, e são encontrados produtos com etiquetas “made in Brazil”, falsificados, oriundos provavelmente da Espanha, Macedônia, Bielo Rússia, Lituânia, como informa o Estadão de 21/12. O analista Dmitry Potapenko disse que os produtos se transformam em “brasileiros” no Daguestão e Chechênia.
O ponto está em avaliar como será esse futuro? A Rússia tem história milenar de suportar crises e guerras, e em algum ponto da história irá superar mais esta nova guerra fria. Talvez Putin não. Mas a Rússia sim. E, como ficamos, como país fornecedor perante esse cliente?
Não é a primeira vez em que embargos com objetivos políticos militares ocorrem e voltarão a ocorrer na história. Por que na época boa, o Brasil é tratado com rigores superiores aos demais concorrentes internacionais, e nenhuma política mais sábia de longo prazo se estabelece entre esses dois gigantescos países? Teremos inadimplência? Teremos baques e quedas nas vendas, por estarmos entrando exclusivamente numa hora como se fosse quase um “esforço de guerra”?
O que não temos e o mundo não tem, e a FAO sugere e ninguém faz, é o tratamento dos alimentos como um direito da humanidade, e que ficasse acima das armas quentes ou frias. Por outro lado, o que precisamos estabelecer como o país que vai oferecer alimento para o mundo, em quantidade e qualidade nos próximos 20 anos, seria, sem dúvida, num planejamento e no estabelecimento de uma política de longo prazo de relações e de negociações com os principais mercados mundiais. Principalmente aqueles que precisam se valer de um posicionamento isento dos interesses geopolíticos, das zonas de graves conflitos globais, como sempre tem sido na Ásia, Europa do Leste e Oriente Médio.
Alimento para a paz e a dignidade humana global poderia e deveria ser a grande bandeira brasileira para os próximos 10 anos na terra, e longe e afastado de facções, política e religiões. Quer dizer: um produtor e fornecedor seguro a nível mundial.
Feliz 2015, com alimentos para a paz global. E sobre a velha Rússia: quem diria, companheiros?