Pela 2ª vez, vamos comemorar em 23 de outubro o Dia Nacional do Plantio Direto. A ocasião simboliza a mudança de um paradigma científico na agronomia.
Estabelecida por meio da lei 14.609 de 2023, de autoria do deputado federal gaúcho Afonso Hamm (PP), que é engenheiro agrônomo, a data se refere à 1ª vez que se realizou o plantio direto de uma lavoura no Brasil, em 1972.
O fato se deu na fazenda Rhenânia, situada no município paranaense de Rolândia, tendo como realizador pioneiro Herbert Bartz, conhecido então como “o alemão louco” e, hoje, como o “pai do plantio direto”.
A data comemorativa foi uma causa patrocinada pela Febrapdp (Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto), entidade que aglutina os estudiosos e produtores rurais desse sistema inovador que se tornou um novo paradigma na condução do agro nacional.
Há 50 anos, quase ninguém nos centros de agronomia do país conhecia ou acreditava na viabilidade do plantio direto. Imperava o antigo paradigma europeu, que preconizava revolver o solo, por meio da aração e da gradeação das terras, que facilitava o enraizamento das plantas cultivadas.
Além de afofá-lo, a aração do solo o expunha aos raios solares depois do período gelado do inverno, aquecendo-o e o avivando. Assim, milenarmente se praticava a agricultura nos países temperados.
No Brasil, porém, a aração de terras em larga escala desencadeou o terrível problema da erosão dos solos. Conduzidas pela mecanização, cujos arados rasgavam o chão, as lavouras mal germinavam e eram fustigadas por chuvas intensas, lavando os sulcos de plantio e formando enxurradas que roubavam a fertilidade.
Cicatrizes horrorosas passaram a marcar a geografia das áreas declivadas, principalmente nos campos paulistas e paranaenses, que se abriam destinados a produzir os alimentos demandados pelo inchamento das cidades durante a fase do êxodo rural. Nas baixadas, o assoreamento dos córregos e dos rios indicava que um mal gravíssimo acometia a agricultura.
Percebeu-se, dessa forma, uma enorme diferença entre a agricultura de clima temperado, como aquela realizada na Europa, e a agricultura tropical e subtropical, típica do Brasil. Copiar a mesma tecnologia de plantio e condução das lavouras estava representando um brutal erro da agronomia.
Herbert Bartz, inconformado com o prejuízo causado pela chuvarada em suas lavouras do Paraná, resolveu tomar uma atitude e investir na técnica do plantio direto. Outros 2 produtores foram essenciais nessa busca de solução: Franke Dijkstra e Manoel “Nonô” Pereira, fundadores do Clube da Minhoca em Ponta Grossa, no Paraná, entidade que disseminava e promovia a adoção do SPD (Sistema de Plantio Direto).
A roda da história se moveu. Recém-criada, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) passou a pesquisar o assunto. Depois de 20 anos de experimentação e avanços, pode-se dizer que no final dos anos de 1990 estava definido um novo modelo de produção rural, dominante atualmente nas regiões de agropecuária moderna e avançada, incluindo o Centro-Oeste brasileiro.
Em seu livro “A estrutura das revoluções científicas”, o epistemologista norte-americano Thomas Kuhn foi quem ressaltou a importância da mudança de paradigmas para o desenvolvimento científico. O caso mais conhecido ocorreu na física, quando Albert Einstein comprovou o relativismo da matéria.
Ocorre uma verdadeira explosão do conhecimento, quando este se liberta de um velho paradigma, superado pelo acúmulo de novos fatos científicos. Foi exatamente o que ocorreu com a agricultura brasileira ao se livrar dos conceitos e das teorias importadas para se firmar sobre as bases da realidade tropical.
Com o sistema de plantio direto, o Brasil conseguiu expandir a sua produção agropecuária e, ao mesmo tempo, controlar a erosão dos solos que apavorava Herbert Bartz e seus colegas. Que todos saibam: por detrás do sucesso do agro brasileiro existe uma revolução científica.
Daí, a comemoração. Viva o 23 de outubro, Dia do Plantio Direto.