Em Março de 2012 foi lançado o Projeto Cultivida, de inciativa espontânea da empresa Ihara que apesar de não ter registros de impactos na saúde humana (intoxicações) por produtos registrados por ela no país, tomou essa iniciativa de organizar este projeto com o envolvimento de profissionais de várias áreas do conhecimento científico, tendo como objetivo a redução e eliminação dos casos de intoxicação por defensivos agrícolas em todo o país.
Este projeto de abrangência nacional e com duração de no mínimo cinco anos, teve sua primeira etapa desenvolvida no município de Guaraciaba do Norte na região da Serra de Ibiapaba no final do mês de Março e irá percorrer 12 regiões por ano de vários estados brasileiros do Nordeste, Sul, Sudoeste e Centro Oeste.
Prevê diversas ações com foco em três áreas de atuação:
- Foco no bem estar e na saúde do trabalhador e sua família com investimentos em conscientização e orientações sobre diferentes problemas que afetam esta população tais como saúde da mulher e da criança através de especialistas da área médica e de atividades culturais.
- Foco na atividade agrícola com aumento da rentabilidade por meio da aplicação das Boas Práticas Agrícolas.
- Foco no treinamento e capacitação dos profissionais de saúde dos níveis local, regional e estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) para a implantação de Programa de Monitoramento da Saúde de Populações Expostas a Defensivos Agrícolas realizado por profissionais de saúde com experiência em Toxicologia Clínica e Analítica.
O objeto deste artigo é apresentar o escopo desta atividade de saúde relacionada a exposição populacional aos defensivos agrícolas.
O uso de defensivos na agricultura é intensivo e várias publicações têm apontado as intoxicações como um dos principais problemas de saúde, especialmente entre trabalhadores rurais.
As estatísticas oficiais apresentam um quadro que pode ter outra expressão que só é possível identificar na medida em que tenhamos um setor de saúde pública com profissionais capacitados para o atendimento de uma pessoa exposta aos defensivos agrícolas e com instrumental diagnóstico adequado para a definição do caso suspeito confirmando como intoxicado ou somente como exposto.
A Área de Saúde Ambiental da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp vem desenvolvendo um Programa de Monitoramento da Saúde de Populações Expostas a Defensivos Agrícolas há mais de duas décadas em toda a região metropolitana de Campinas com 42 municípios de também em 9 municípios do sul de Minas Gerais.
A estrutura operacional e hierárquica deste Programa institucional, que tem se mostrado bastante eficiente e eficaz para ser reproduzido em outras regiões de outros estados do país, servirá de modelo para a sua reprodução e implantação nas regiões de atuação do Projeto Cultivida.
O treinamento e capacitação orientam os distintos profissionais no encaminhamento de agricultores (as) e familiares a realizarem pelo menos uma vez ao ano ou sempre que necessário uma triagem nos Programas da Saúde da Família (PSFs) mediante uma ficha clínico epidemiológica, além de coleta de sangue para dosagem das colinesterases, enzimas que podem se alterar na exposição aos inseticidas organofosforados e/ou carbamatos. Esta análise laboratorial é realizada pelo nível regional de saúde.
Caso nesta triagem nos PSFs ou caso o exame laboratorial se apresentar alterado, o indivíduo é encaminhado para uma consulta médica na qual faz-se uma avaliação rigorosa com outros exames complementares laboratoriais para a confirmação ou não do caso suspeito e reencaminhamento para o município de origem para acompanhamento e monitoramento.
Na primeira etapa ocorrida em Guaraciaba do Norte, CE foram capacitadas as agentes comunitárias de saúde e técnicos do Programa da Saúde da Família (PSF) do município (nível local) e profissionais do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador (CEREST), incluindo um profissional médico, além de profissionais do laboratório todos do município de Tianguá (nível regional) que serão referência para o município de Guaraciaba do Norte como para outros 8 municípios que compõem a denominada chapada da Serra de Ibiapaba.
Em todas as etapas do projeto o roteiro será sempre este, buscando articular todos os segmentos do setor público de saúde das regiões, hierarquizando responsabilidades e funções e deixando a perspectiva de continuidade de um Programa que esteja capacitado ao atendimento das pessoas expostas aos defensivos atuando de maneira ativa, identificando precocemente qualquer sinal e/ou sintoma que a pessoa exposta possa apresentar, além de apoiar e colaborar no monitoramento sobre o uso seguro e correto dos defensivos agrícolas elemento fundamental na linha do cuidado integral à saúde das populações expostas.
Se a exposição individual torna-se menor com procedimentos de proteção e segurança respeitados, os riscos desses indivíduos ficam bastante reduzidos o que deve ser aliado a outras orientações técnicas no âmbito das Boas Práticas Agrícolas.
A implantação desta atividade programática contínua por parte dos municípios inseridos no projeto Cultivida, permitirá a geração de dados fidedignos de saúde possibilitando um entendimento de qual é o real impacto desta tecnologia na saúde da população exposta aos defensivos agrícolas em nível nacional orientando ações de prevenção para alcançar o objetivo maior do Projeto de eliminar as intoxicações por defensivos agrícolas na população rural brasileira.