Por Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica
Não basta produzir, tem que ser sustentável. Esse será o princípio básico da agricultura do futuro em que, além do desafio de fornecer produtos agrícolas para atender as necessidades dos consumidores, deve caracterizar-se por utilizar sistemas de produção integrados por tecnologias sustentáveis.
Atender a demanda de 10 bilhões de pessoas, em 2050 já não seria fácil. À vista do esgotamento das áreas férteis e das restrições impostas pelas mudanças climáticas, o desafio se potencializa. Será necessário aumentar a produtividade dos cultivos em índices compatíveis com a demanda e as restrições.
Para tanto será necessário investimento intenso e continuado em Pesquisa e Desenvolvimento de novas tecnologias. Atenção especial deve ser dada à geração de genótipos mais produtivos, e em tecnologias que eliminem ou mitiguem estresses bióticos e abióticos, para permitir que o potencial produtivo das culturas se expresse.
Um dos estresses com maior potencial para reduzir a produtividade das culturas é o ataque de pragas. Desenvolver novas técnicas para controle de pragas, intrinsecamente sustentáveis, é um dos desafios da moderna Ciência Agronômica.
Alvos para controle
Os aspectos biológicos e ecológicos de fungos, oomicetos e bactérias fitopatogênicas, sua morfologia e suas estratégias de infecção e desenvolvimento no hospedeiro apresentam determinado grau de heterogeneidade. Assim, os pesticidas necessitam diversificar seus alvos, porém não pode haver grande dispersão, a ponto de se tornarem excessivamente específicos.
Destarte, frequentemente os alvos são processos celulares básicos, posto que semelhantes entre os diferentes patógenos de plantas. Como tal, as substâncias utilizadas para seu controle miram enzimas que desempenham um papel no metabolismo dos patógenos como síntese de ácidos nucleicos, respiração, divisão celular e outros processos celulares essenciais.
No entanto, o conhecimento sobre os alvos moleculares ainda permanece parcialmente obscuro, levando a efeitos não desejados dos produtos utilizados, além de promoverem o desenvolvimento de resistência ao longo do tempo, o que pode resultar em redução da sua eficiência e, no limite, à ineficiência.
Isso posto, é importante a pesquisa por novas tecnologias de controle de pragas, que diversifiquem os alvos e os modos de ação, para propiciar condições para a expressão do potencial produtivo dos cultivos. Ademais, além de diversificar e apresentar elevado grau de eficiência, as novas tecnologias necessitam ser intrinsecamente sustentáveis, com o menor impacto possível sobre a biodiversidade
Tecnologia
No bojo da diretriz acima, cientistas dos Institutos Max-Planck de Ciências Multidisciplinares (mpinat.mpg.de/en) e de Pesquisa de Melhoramento de Plantas (mpipz.mpg.de/en) identificaram compostos com alta funcionalidade e baixa toxicidade, e que apresentam potencial para serem usados para proteção de plantas às infecções de patógenos. Comandados pela Dra. Irene Riera-Tur, a equipe de cientistas investigou proteínas que causam defeitos lisossômicos em patógenos, prevenindo que os mesmos infectem plantas
Os patógenos de plantas produzem proteínas autoagregantes semelhantes às proteínas amiloides, que contribuem para a formação de estruturas extracelulares, como paredes celulares, estruturas de adesão a superfícies biológicas e outras estruturas de infecção – como biofilmes - relacionadas à patogenicidade. Os cientistas do Max Planck identificaram e caracterizaram compostos que inibem a agregação de proteínas do tipo amilóide, que apresentam efeitos significativos no crescimento de patógenos de plantas (life-science-alliance.org/
Pelo seu modo de ação, espera-se que apresentem elevada especificidade para patógenos, aliada à baixa toxicidade humana e à biodiversidade em geral. Igualmente, espera-se uma baixa probabilidade de induzir o desenvolvimento de resistência nos patógenos e são, portanto, altamente adequados como base para o desenvolvimento de novos pesticidas para a proteção de doenças de plantas.
O exposto mostra como a Ciência pode contribuir para resolver desafios que, concomitantemente, signifiquem uma solução eficiente e factível para um problema, ao tempo em que alia a temática da sustentabilidade e da inocuidade para a biodiversidade.