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Engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso: uma profissão de fé pela agronomia e sustentabilidade


18/09
Por: Antonio Roque Dechen
Engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso: uma profissão de fé pela agronomia e sustentabilidade

Amanhã, dia 19 de setembro de 2014, completa 100 anos o engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso.  Nasceu, portanto, em 1914, em plena turbulência da primeira guerra mundial.  Desde a infância destacou-se pela habilidade intelectual e pelo desempenho escolar: foi sempre o primeiro aluno em todos os cursos. Matriculou-se na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) em janeiro de 1933 e em 25 de janeiro de 1934 era aluno da ESALQ quando a Universidade de São Paulo foi fundada, sendo, portanto, a ESALQ uma das unidades fundadoras da USP que neste ano está comemorando 80 anos.  Formou-se em engenheiro agrônomo em 1936, como primeiro aluno da turma, com uma das melhores médias conquistadas até hoje.

No começo de sua vida profissional os tempos eram difíceis e a agricultura precária, porém ele sempre continuou estudioso e atento aos problemas que aumentaram com o início da segunda guerra mundial; grandes dificuldades que, para serem superadas, exigiram grande esforço e dedicação e, principalmente, uma visão diferenciada.

Empreendedor nato, em tempo de grande crise, vendo a necessidade de fertilizantes para o desenvolvimento da agricultura, sempre com o foco na fertilidade e na conservação do solo, foi um dos pioneiros em trabalhos práticos em conservação do solo.  Publicou trabalhos sobre o assunto na década de 30: a Seção de Conservação do Solo do Instituto Agronômico em Campinas foi implantada em 1943. Falamos da década de 40, quando as culturas de destaque no Brasil eram, principalmente, café, cana, algodão e cacau, e a produção de alimentos com baixa produtividade.

As terras esgotadas após anos de cultivo exigiam especial empenho quanto a reposição de nutrientes. A guerra cortara importações, restringindo os adubos ao farelo de algodão, aos ossos e resíduos animais, e às cinzas, tanto de café como das tortas oleaginosas, após a extração do óleo comestível.

Com especial empenho e com suprimento de cinzas ricas em fósforo, potássio e micronutrientes, formulavam um produto excepcional para a penúria dos tempos de guerra.

Durante cinco anos utilizaram antigos armazéns desativados em Descalvado, moendo, misturando com rodo e enxada, peneirando em telas inclinadas, ensacando a pá, pesando, costurando, empilhando e carregando a mão e braços numa operação primitiva, porém acompanhada por controle analítico para assegurar qualidade e respeitar as garantias anunciadas.

Em dezembro de 1947, Cardoso e Camargo com algumas economias, fundaram a MANAH S.A. (fertilizantes e gado de corte), com 14 acionistas: os dois fundadores, oito membros de suas famílias, três componentes de suas equipes e o dono de uma modesta casa bancária que já os financiava. O Grupo Manah cresceu e acompanhou o desenvolvimento da agricultura brasileira, “MANAH” foi reconhecida como marca “NOTÓRIA” e “ADUBANDO DÁ” tornou-se um slogan gravado no subconsciente de milhões de brasileiros.

O crescimento populacional e a necessidade de maior produção de alimentos aumentaram os desafios para os profissionais das ciências agrárias.  Nos anos 70 assistimos à Revolução Verde de Norman Borlaug, com a obtenção de variedades capazes de responder à adubação.

Norman Borlaug, particular amigo do Dr. Fernando acompanhou-o em diversas viagens pelo Brasil, para acompanhar a segunda Revolução Verde, com a conquista do Cerrado, uma das últimas fronteiras agrícolas, graças à transferência dos resultados de pesquisa, e estabeleceu com sucesso a integração lavoura x pecuária, e a Terceira Revolução: a adoção do sistema de plantio direto, ao qual Fernando Penteado Cardoso refere-se como: agricultura com água e ar limpos.

O Dr. Fernando em sua trajetória profissional, além da gestão do Grupo Manah, exerceu atividades como funcionário da Secretaria da Agricultura do ESP, de 1937 a 1941, foi administrador Rural da Fazenda Monte Alegre em Descalvado/SP de 1941 a 1950.

Como reconhecimento profissional foi homenageado como Engenheiro Agrônomo do Ano 1989 pela Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo; com o Diploma de Personalidade do Agronegócio pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC); pela Confederação Nacional das Federações de Engenheiros Agrônomos do Brasil (CONFAEAB). Foi condecorado com a Medalha Ordem do Ipiranga do Estado de São Paulo, com a Grande Medalha da Inconfidência do Estado de Minas Gerais e com o Prêmio Mérito Científico do Governo do Estado de São Paulo em 2001. Como Personalidade do Agronegócio em 2005, pela ABAG, e com a Medalha Luiz de Queiroz, ESALQ-USP em 2008.

Em suas atividades classistas foi Fundador e Presidente da Associação Rural e Cooperativa Agrícola de Descavaldo/SP de 1945 a 1950, Diretor da Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo de 1944 a 1950, Diretor e Presidente do Sindicato da Indústria de Adubo do Estado de São Paulo de 1954 a 1977, Membro do Conselho Consultivo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e é membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP.

Como atividades públicas foi Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo em 1964, Vice-Presidente e Presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo em 1980, Membro do Conselho do Fundo de Pesquisa do Instituto Biológico do Estado de São Paulo de 1959 a 1970, foi Membro do Conselho Assessor da EMBRAPA.

Como atividades internacionais foi Delegado da Agricultura junto ao Conselho Interamericano de Produção e Comércio de Chicago-EUA, em 1948, foi Membro fundador das Conferências Latino Americanas para Produção de Alimentos – IMC-EUA de 1954 a 1977, foi Membro do Conselho Diretor do Instituto Internacional para Desenvolvimento de Fertilizantes – IFD, de 1975 a 1990.

Como atividades sociais foi Membro do Conselho e Diretor da Fundação Santa Cruz (Ensino Secundário), em São Paulo/SP, Diretor do Centro de Proteção à Infância e Maternidade, em Taboão da Serra/SP.

Esta é uma síntese das atividades do Dr. Fernando, seu foco principal a gestão do Grupo Manah. Com a venda do Grupo Manah no ano 2000 seria normal pensar em aposentadoria, porém não para o Dr. Fernando aos 86 anos.

Uma nova tarefa, uma nova missão, um sonho: como continuar o trabalho em prol da conservação do solo, da fertilidade e sustentabilidade da produção agrícola? Nessa época eu era o diretor presidente da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – FEALQ.  A FEALQ tinha recebido o que nós chamamos de uma doação inusitada: o Engenheiro agrônomo Felipe Von Prietzilwitz, formado na ESALQ em 1948, faleceu e deixou em testamento sua propriedade em Londrina, a Fazenda Figueira, com 1507 alqueires para a FEALQ e para ser administrada tecnicamente pela ESALQ. Na época, recebi uma ligação do Dr. Fernando dizendo que também gostaria de deixar um legado, voltado para pesquisas em sustentabilidade; conversamos muito e amadurecemos a ideia por um ano; no dia 24 de abril de 2001, recebi uma ligação do Dr. Fernando informando que a Fundação Agrisus já estava registrada e oficialmente já existia: os projetos aprovados seriam gerenciados pela FEALQ.  Naquela data a comunidade foi informada de que a Fundação Agrisus, em conjunto com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, iriam somar esforços na formação de profissionais  capazes de gerar sólida tecnologia e de promover uma agricultura progressista, econômica e estável, em benefício das gerações futuras.

Hoje a semente plantada da Fundação Agrisus, com o convenio com a FEALQ está consolidada: foram aprovados 691 projetos no período e hoje temos 51 projetos em andamento.

Particularmente quero registrar meus agradecimentos e reconhecimento a todos da família: em especial ao Dr. Fernando Penteado Cardoso e a D. Magdalena Leme Cardoso (in memoriam), Maria Estela Penteado Cardoso, Maria Magdalena Cardoso Veloso, Rita Maria Cardoso Barbosa, Francisco Antonio Penteado Cardoso, Fernando Penteado Cardoso Filho e Eduardo Penteado Cardoso. Poucos realizam uma ação com a grandeza e desprendimento da doação que vocês realizaram. Uma enorme honra para mim participar de uma ação tão nobre. Agradecimentos também aos diretores da Fundação Agrisus Vidal Pedroso de Faria e Evaristo Marzabal Neves, ao conselho curador da Agrisus: Fernando Penteado Cardoso Filho (Presidente), Adriana Pinheiro Martinelli, Artur Chinelato de Camargo, Carlos Alberto Vettorazzi, Claudio Fauvel Amaury, José Octávio Machado Menten, Ricardo Shirota e ao Dr. Ondino Cleante Bataglia, secretário executivo da Fundação Agrisus, e a diretoria e conselho curador da FEALQ que tão bem nos acolheram.

Esta é uma parte da extensa saga de Fernando Penteado Cardoso, uma PROFISSÃO DE FÉ PELA AGRONOMIA E PELA SUSTENTABILIDADE, uma vida de dedicação e sucesso, cujo histórico nos permite concluir que, TRABALHANDO DÁ.

Parabéns Dr. Fernando, cumprimentos extensivos aos seis filhos, aos 20 netos e aos 34 

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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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