No ano passado vivemos uma revolução no futebol, com técnicos importados. Interessante que boa parte desses profissionais dizem ter se inspirado no futebol brasileiro de antigamente, historicamente bonito, eficiente, jogando no ataque. Eram dois zagueiros, três meio-campistas e cinco no ataque. Depois, nossos principais técnicos, por inspiração europeia, parecem ter esquecido essa característica, visando somente eficiência, e acabaram montando times retranqueiros e eficientes, mas limitados.
No agronegócio, até certo ponto estamos fazendo o mesmo. Jogando na defesa. Certo que a defesa é sólida, bem construída, fruto de pesquisa e desenvolvimento tupiniquim. Um grande feito, eficiente. Mas, limitada, uma vez que não está sendo suficiente para ganhar o jogo. É que o jogo é dinâmico, muda de um tempo para outro. O mundo parece não ouvir quando dizemos, com razão, que sabemos produzir e preservar. Preferem apontar os dedos sujos para nossas falhas. Então, porque não mudarmos a tática. Jogar no ataque. Mas como?
Algumas iniciativas já aparecem, apostando na rastreabilidade de produtos, produção integrada, certificações internacionais com desmatamento zero. É bom, mas não tem sido suficiente. Vendemos muito, mas precisamos vender melhor. Vender para os países mais ricos, que, coincidentemente, são os mais sensíveis quanto aos problemas climáticos, reais ou não. Já desenvolvemos e usamos tecnologia agrícola inovadora. No campo, estamos no ataque. Quanto à nossa matriz energética, também estamos indo bem, 45% da energia e 18% dos combustíveis que consumimos vem de fontes renováveis. Temos o já tradicional etanol, mais o biocombustível de base florestal e o etanol de segunda geração em avançado estágio de maturação.
Entretanto, um setor que ainda tem muito a desenvolver com resultados fundamentais para a economia e para o ambiente é o florestal. Por exemplo, a substituição de derivados de petróleo por celulose em materiais compostos, os compósitos. A Suzano apresentou um plano de queima da lixivia negra, subproduto extremamente poluente da indústria de papel e celulose, para produção de eletricidade. Outra frente seria a substituição em larga escala do poliéster de petróleo por fibras celulósicas como viscose, mais confortável, ou novas tecnologias como a celulose microfibrilada.
Jogar no ataque. Mais que só vender o que já fizemos, é necessário colocar no mercado global produtos com tecnologia limpa. E dizer isso ao consumidor. Colocar no rótulo. Talvez produtos sejam mais perceptíveis à população que ideias ou estatísticas. Jogar no ataque. Para o Flamengo está dando certo. Não vale a pena tentar no agronegócio?