No mundo contemporâneo, o multilateralismo comercial sempre esteve associado ao incremento das transações, maior fluxo de investimentos entre países, geração de empregos e crescimento sustentável. Agora, essa visão está sob ataque, principalmente por conta e obra do presidente dos Estados Unidos, justamente a potência econômica escalada para zelar pela ordem mundial do liberalismo econômico, desde os idos da Segunda Guerra Mundial. Tempo esquisito esse, em que também temos o Brexit, a marcha da China para se consolidar como potência mundial e as Bolsas e mercados de câmbio em sobe e desce a cada tuíte ou entrevista de retaliação comercial.
O intrigante é que essas escaramuças protecionistas talvez sejam reflexo de um movimento maior, silencioso, de perda de força do conceito de cooperação multilateral entre as maiores economias do planeta. Estudo da Global Business Coalition – GBC (Coalizão Mundial de Empresas), que reúne associações empresariais de 14 países do G 20 (o grupo das 20 maiores economias do mundo), sugere isso em números, informando que os países membros do G 20 adotaram mais de 600 medidas restritivas ao comércio nos últimos 10 anos (2008-2017), estabelecendo algum tipo de barreira comercial em suas economias. E isso antes mesmo que o ímpeto “trumpista” começasse a sua cruzada espalhafatosa pelo mundo.
O GBC representa o interesse de mais de 6,8 milhões de empresas de todos os tamanhos, dos países presentes na Coligação, entre eles o Brasil, através da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em julho último, a entidade lançou carta aberta dirigida aos líderes do G 20, alertando sobre a escalada do protecionismo e perda de força da cooperação multilateral no mundo, aumentando as tensões entre países e engessando oportunidades de prosperidade comercial. O documento sugere sete linhas de ação para o G 20 em questões de comércio mundial, pedindo a seus ministros de economia que se renove o compromisso de manter a abertura dos mercados e não impor barreiras ao comércio. Em síntese, a coligação global de empresas pediu licença, assertivamente, para sentar na mesa.
O Brasil é o terceiro maior exportador agropecuário. Lidera em vários produtos, vem ganhando participação no mercado global. O nosso agro representa cerca de 7% do comércio mundial agropecuário, 40% das exportações brasileiras e, recentemente, o titular do MAPA, Ministro Blairo Maggi, falou da meta brasileira de avançar para 10% das exportações agropecuárias globais nos próximos anos, inclusive dando ênfase a produtos de maior valor agregado. Além do papel hegemônico previsto pela ONU para o Brasil no abastecimento mundial de alimentos, até 2050. Ou seja, no agro o Brasil não é mais país emergente; é avançado, líder global. E isso requer uma militância geopolítica intensa, também dos setores empresariais envolvidos.
A história mostra: rotas comerciais prósperas em geral são construídas articulando governos e empreendedores, sob a bandeira do multilateralismo. Se entidades brasileiras do agro, por exemplo, ainda não tem conexão direta com iniciativas como o GBC, que se tente plantar as sementes, ou então se estabeleça um diálogo com instituições nacionais que já estão nessa arena, como o exemplo da CNI. Diálogo e diplomacia empresarial criativa. Afinal, quando se fala de agronegócio e valor agregado, vale o conceito de cadeia produtiva sob forte integração. Estamos na era das conexões e da sinergia maximizada.