A luta para alimentar 10 bilhões de pessoas, em meados do século, está sendo travada em muitas frentes. Exige aumento da produção agrícola, mormente por ganhos sustentáveis de produtividade, e reduções maciças na quantidade de alimentos desperdiçados.
Na maioria dos países do mundo, a pesca e a agricultura tendem a ser sazonais, deixando trabalhadores com tempo e maquinário sem uso durante parte de cada ano que, com imaginação, pode encontrar uma função alternativa. Aí entra a criatividade, a inovação e o empreendedorismo. Existem alimentos rotineiramente ignorados em alguns lugares - que outros paladares e culturas valorizam.
Alimentos alternativos começam como nichos de mercado, antes de serem absorvidos por grandes massas de consumidores. Por exemplo, algas marinhas de vários tipos são consumidas rotineiramente no leste da Ásia. O consumo global indústria alcança US$ 6 bilhões por ano, de acordo com a FAO, o equivalente ao que os norte-americanos gastam em salgadinhos de tortilla. E já é uma das grandes apostas para um mercado amplo, a partir da próxima década.
Provavelmente esta é a maior oportunidade de inovação no mercado gastronômico, nos próximos anos. Cerca de 1.900 espécies de insetos são consumidas por humanos, em diversos locais mundo, de acordo com a FAO (fao.org/3/i3253e/i3253e.pdf). A culinária de Oaxaca, indiscutivelmente a mais complexa e deliciosa do México, apresenta chapulines (gafanhotos) fritos temperados com limão, malagueta e sal e enrolado em uma tortilla de milho fresco.
Na Tailândia besouros do tamanho de um polegar viram lanches fritos; trabalhadores rurais da África Austral preferem vermes gordinhos, que chamam de mopane (bit.ly/3Nay2Ay). Cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo optam por comer insetos regularmente. Mas, um número equivalente faz isso sem saber, ingerindo-os junto com outros alimentos. Por exemplo, as regras da Agência que controla alimentos nos Estados Unidos (FDA) permitem até 40 tripes (minúsculos insetos) por 100 gramas de brócolis!
Os insetos convertem nutrientes e água em proteínas com muito mais eficiência do que animais comumente consumidos, como bois, frangos ou porcos. Cultivá-los não requer desmatamento, libera muito pouco gás de efeito estufa e pode ser feito junto com outras culturas – aí entra a sinergia. Também podem ser alimentados com resíduos orgânicos, reduzindo o fluxo de resíduos em aterros sanitários.
A maioria das espécies de insetos contém maior teor de proteína do que as leguminosas; alguns, inclusive, contêm mais proteínas do que carne e ovos. Seus exoesqueletos podem ser desconfortáveis na boca; mas os exoesqueletos, como sabem os apreciadores de camarão e lagosta, podem ser removidos!
Insetos também podem ser processados para substituir outras fontes proteicas, como a farinha de peixe ou farelo de oleaginosas na produção de peixes ou outros produtos da aquacultura, criados em cativeiro.
Há 50 anos, a maioria dos ocidentais olhava com desconfiança e até nojo para peixe cru; hoje sushi e sashimi abundam em restaurantes e são rotineiros em supermercados.
Atualmente, cresce de forma significativa o número de startups que preparam alimentos à base de insetos. Uma dessas startups produz e processa larvas negras de mosca-soldado (bit.ly/3OTNXEw), descrita por alguns entusiastas como "um dos insetos mais saborosos que já comi". O negócio iniciou com a preocupação de seu fundador com a falta de recursos hídricos no Oeste dos EUA e hoje é uma empresa bem postada no mercado.
Adeptos de dietas ricas em proteínas - bem como aquelas que evitam trigo - tornou a farinha de grilo uma oportunidade atraente para os criadores de insetos. É rica em proteínas e minerais, e seu sabor que lembra nozes combina bem com outros alimentos.
Enfim, é nas crises que a Humanidade encontrou soluções antes impensadas ou relevadas. A criatividade, a evolução tecnológica e o empreendedorismo estão na base de soluções alternativas para alimentar o mundo na segunda metade do presente século.