No último Congresso Brasileiro de Agribusiness (agosto 2011). Mudanças e Paradigmas foram os eixos centrais das proposições sugeridas pela ABAG. Quebrar paradigmas era a proposta e os painéis trataram de avaliar se Energia barata e Alimento barato seriam ainda exeqüíveis no mundo atual. Agronegócio e Sociedade e Agronegócio e Governo foram os demais painéis do dia.
O Presidente da BR Foods, José Antonio do Prado Fay, fez uma colocação sutil, mas de alta importância estratégica, quando falamos do agronegócio:
“... 90% do consumo dos paises é o que é processado e consumido localmente, só 10% é exportação “. Ao olharmos para a cadeia de valor do “ agribusiness “, em linhas gerais o “antes da porteira das fazendas “
(insumos e bens de produção para a agropecuária) representam 10%; O
“dentro da porteira das fazendas “ (a produção rural propriamente dita) significa 20% do volume total da cadeia; e o grosso desse montante, somando 70% , é o que é processado, distribuído, comercializado e oferecido como serviços do setor de alimentos e bebidas, o “pós porteira das fazendas“ (a agroindustrialização, varejo e serviços do setor).
Fica evidente, a partir da visão dos números, a importância para o agronegócio brasileiro da criação de companhias que reúnam escalabilidade global, gestão de “ brand “, e talento administrativo para operar plantas e marketing localizados, ao longo de todo o planeta.
Precisamos de agroindústrias e cadeias de distribuição com real poder de
“glocalidade“ (pensamento global com ação local). A exportação de alimentos processados e de valor agregado, significam apenas 10% do total consumido no mundo. 90% é oriundo de atividades implantadas e localizadas nos mercados onde o consumo ocorre. Desta forma, o apoio e o incentivo à orquestração de companhias fortes, atuando como efetivas locomotivas do agronegócio, tendo presença nos mercados locais, é condição “ sine qua non “ para adentrarmos na parte generosa e substanciosa do bolo do agribusiness: os 70% do pós porteira das fazendas.
Não é nada excludente uma política de acesso aos mercados, pela via das exportações para a nova geração de “commodities“, onde já vem embarcadas a tecnologia, a sustentabilidade e os padrões exigentes da origem; e ao mesmo tempo, a configuração de grandes corporações, como BR Foods; JBS; AMBEV e outras, para a parte da agregação de valor “ in loco “ dos produtos . Além disso, não deveríamos estranhar a importância de termos redes de distribuição poderosas para a competição
“ global “, onde a regra do jogo é chamada de “capilaridade“. Nesse sentido, o Sr Abílio Diniz e o BNDES não estariam tão errados assim.
A síntese do Congresso é a de que vivemos um verdadeiro choque de demanda, por energia renovável e alimentos; e que os próximos 10 anos continuariam a ser demandantes. A política pública e a eliminação dos velhos entraves brasileiros, como o custo Brasil, burocracia e “lego“ tributário; são os assuntos recorrentes para que o Brasil possa aproveitar a década onde já entramos.
Vale ainda salientar que há um gigantesco espaço para o “ middle market “, dentro do agronegócio, tanto no campo das “commodities“ especiais, ou dos embarques de alguns “containeres“, de grãos mesmo; assim como para as pequenas e médias empresas agroindustriais brasileiras, que podem e devem buscar parcerias e acordos com “players“ existentes em todos os mercados externos. Entretanto, o grande negócio do agronegócio é local: o pós porteira das fazendas.
Jose Luiz Tejon Megido
Vice Presidente Comunicação CCAS
Dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM