Em abril acontece a Cúpula Virtual do Clima, dias 22 e 23. Será um encontro remoto entre 40 líderes mundiais e está sendo organizado pelo presidente dos EUA, Joe Biden. O presidente brasileiro foi convidado. O objetivo é discutir uma ação climática mais firme, seus benefícios econômicos e, também, preparar as bases para a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26), que ocorrerá em novembro, em Glasgow, Escócia. Que mensagens o Brasil pode levar para essa cúpula do clima? Deixo aqui minhas visões, mas o principal é estimular o debate e levar cada leitor a fazer sua reflexão.
Penso que o Brasil poderia começar por definir uma atitude estratégica, a de trabalhar para recuperar a liderança ambiental que conquistou com a ECO-92 e depois deixou escorregar pelas mãos. Deixar de ser alvo e retomar o protagonismo que havia construído em décadas recentes. Como exemplo, vale lembrar que o país criou o primeiro programa mundial de produção em larga escala de combustível renovável de biomassa (Proálcool, 1975) e hoje as emissões neutralizadas por ele estão na casa dos 200 milhões de toneladas de CO²/ano.
Para além das questões ambiental e climática, o Brasil bem que poderia levar uma visão estratégica sobre a produção tropical de alimentos e a segurança alimentar mundial. Reforçar o conceito do agro brasileiro e da Revolução Agrícola Tropical Sustentável, que realizamos aqui a partir dos anos 1970, continuando até hoje. E que gerou ciência agrícola específica para biomas tropicais, tornando o agro brasileiro o mais competitivo do mercado internacional, fornecedor estratégico de alimentos para o mundo, e ainda conservando cerca de 60% de cobertura vegetal natural do país, segundo a Embrapa.
A narrativa dessa revolução agrícola brasileira ainda não foi feita em toda a sua dimensão científica, humana e de sustentabilidade, lá no exterior. E seria um contraponto importante para o Brasil recomeçar a construir uma percepção de país com consciência para a questão ambiental e climática. Também é importante reconhecer que há problemas, pois satélites são implacáveis: grilagem, incêndios, desmatamento, invasão de terras públicas. Reconhecer, posicionar que são ilegalidades e fazer uma profissão de fé pelo encaminhamento de sua solução. Sem escamotear e apontando para o aparato da lei, que já existe.
Outro ponto essencial: levar à Cúpula do Clima propostas de futuro. Como o desenvolvimento da Amazônia regido por uma agenda do clima, florestas e agricultura, sob a perspectiva de uma economia de baixo carbono e sustentável. Ou, então, o inovador Projeto Biomas Tropicais, em curso no Fórum do Futuro, presidido por Alysson Paolinelli, propondo uma nova estratégia para incorporação produtiva de biomas nos trópicos, com a ciência saindo na frente e delimitando todas as ações para o uso sustentável dos recursos naturais de um bioma.
Três pontos, enfim, que poderiam fazer a diferença para a imagem do país: aprofundar a percepção de nossa moderna agricultura sustentável, retrabalhar uma visão de valorização ambiental e climática, e levar proposições de futuro para a produção alimentar e a redução de emissões. Se quiser ousar, pode compartilhar o desafio de incorporar ao mercado cerca de quatro milhões de propriedades rurais que ainda permanecem no nível da produção de subsistência. Mudanças climáticas significam risco para o planeta. É o momento para o Brasil ressignificar o seu papel na questão ambiental mundial, papel que já foi de liderança efetiva e consistente.