A crise brasileira iniciada em 2014 foi, em grande sentido, uma crise de confiança política, associada a desmandos ou equívocos de política econômica do governo de então. Bateu-se depois no fundo do poço e mais recentemente começamos a sair da crise, de modo lento e gradual, como sugerem os índices econômicos recentes.
Mas a incerteza política permaneceu e a crise de confiança na governança pública brasileira continua latente. Sinal de que os agentes econômicos acostumaram a navegar na tempestade e continuam a operar suas atividades, talvez com cautela, pois é preciso pagar as contas de casa, os funcionários, fornecedores, plantar a safra, repor rebanhos ou girar a indústria.
Nisso tudo, um aspecto chama a atenção: no processo de recuperação econômica, a inflação anual caiu para 2,6% e a taxa de juros básicos da economia (Selic) despencou mais da metade, chegando a 6,75% ao ano. Mas os juros ao consumidor, ou mesmo para as empresas, parecem não acompanhar esse grau de redução, fato repetidamente criticado na mídia.
Por sua própria natureza, a atividade bancária vive de avaliar (e bem) os riscos envolvidos em suas operações financeiras de crédito, em geral de médio e longo prazo. Será, então, que a teimosia dos juros no varejo bancário está traduzindo, ainda, a percepção de um ponderável risco político para a economia do país?
Vamos imaginar que sim. Então, a incerteza política estaria inibindo a energia econômica de consumidores e empreendedores, talvez até contaminando o olhar das agências internacionais de classificação de risco, que rebaixaram a nota brasileira. Mas, se a crise de confiança trava a nossa reconstrução, a chance de restaurar a credibilidade acontece daqui a sete meses, nas eleições.
Quem devemos então eleger? Aparentemente, o bom senso aponta para candidatos com uma agenda voltada às reformas constitucionais reclamadas pela realidade dos fatos, como as reformas da previdência, tributária, federativa e política. Seria um pilar básico de escolha, sem o qual outras demandas como segurança, saúde e educação podem ficar sem futuro.
Mais: estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), considerando dados de 92 países, entre 1975 e 2015, indica que em geral há uma associação entre fragmentação política e aumento da dívida pública dos países. Quanto mais fragmentada a política, maiores os recursos para atender interesses parlamentares, em nome da estabilidade das coalizões partidárias.
A fragmentação política, medida como número de partidos e seu poder de voto no Congresso, cresceu 30% no Brasil, de 2010 a 2014, vindo de aumento anterior. E do jeito que o bate-boca político caminha nas ruas e redes sociais, essa fragmentação pode crescer mais. Enquanto isso, a dívida pública está em 80% do PIB e pode chegar a 100%, em dois anos, segundo analistas.
Restaurar a confiança política da sociedade e compactar a política partidária no Congresso. Dois desafios que temos na próxima eleição, de olho na sustentabilidade econômica e institucional do país. Até para viabilizar melhor as sustentabilidades que tanto precisamos cultivar – do bolso à mesa, no campo e na cidade.