Toda vez que aumenta o tom de debates sobre defensivos agrícolas, sinto que se corre o risco de perder um pouco da dimensão histórica da questão fitossanitária. Ela sempre esteve atrelada à evolução do mercado de alimentos, primeiro na perspectiva de segurança alimentar, depois no foco da qualidade dos produtos e, mais recentemente, também com a ênfase na segurança dos alimentos.
Nada está parado na agricultura brasileira. Pelo contrário. De 2009 a 2013, os defensivos biológicos e orgânicos representaram 13% do total de produtos registrados pelo MAPA, no período. Se considerarmos só o primeiro ano (2009), a proporção era de 1%. No segundo ano foi para 6,5% e, ao final daqueles cinco anos (2013), alcançou 21%, refletindo o avanço das tecnologias desenvolvidas nessa categoria de produtos.
Nos cinco anos subsequentes (2014 a 2018) a proporção continuou subindo, com os biológicos e orgânicos alcançando 30% do total de defensivos registrados. E praticamente a mesma fatia (29%) permaneceu na média dos últimos três anos (2016 a 2018), mostrando consistência histórica. Em dez anos (2009 a 2018), eles somaram 218 produtos registrados, representando 38% do total de formulados químicos liberados pelo MAPA.
Mas não são apenas os biológicos e os orgânicos que estão mudando o quadro de oferta de soluções fitossanitárias no mercado. As AgTechs estão com ferramentas para monitoramento sanitário preventivo das lavouras. Equipamentos de aplicação racionalizam ao extremo o uso dos produtos, com inteligência artificial. A genética induz resistência nas plantas e o controle biológico completa o arsenal. Tudo sob o conceito de manejo integrado de pragas e doenças.
Houve um tempo, em que se combatia formigueiros adultos, daqueles que abrigam até cinco milhões de saúvas cortadeiras de folhas, com explosões de dinamite. Depois, trocou-se a explosão por moléculas químicas, em nome de ganhos de eficiência, segurança e menor impacto ambiental. Até os dias atuais, quando o mesmo tipo de sauveiro recebe a atenção de softwares de análise das infestações, para se identificar estratégias sustentáveis de controle.
De modo semelhante, hoje gestão da saúde vegetal está mudando e incorporando novos recursos, além dos tradicionais defensivos, apoiada pela evolução da tecnologia disponível e com o agricultor buscando redução de custos, menor impacto ambiental, qualidade e segurança do produto. Enfim, sustentabilidade nas dimensões humana, social, ambiental e econômica.
Então está tudo bom? Creio que não. E a agricultura e a pesquisa sabem disso e procuram sem parar formas mais sustentáveis de fazer as coisas. Nesse sentido, também é essencial o olhar crítico da sociedade, expressando suas aspirações e necessidades. Vale a vigilância, pois isso é próprio da cidadania e de nações progressistas, movidas pela ciência e uma base de valores consensuais. Daqui, sim, sai uma discussão mais objetiva e fértil, olhando para o futuro do sistema alimentar e do agro.