Diariamente somos inundados com inúmeras notícias de novas tecnologias que estão sendo utilizadas em diversas áreas. O setor de inspeção também tem caminhado a passos largos neste sentido.
Na última semana de fevereiro, ocorreu um simpósio “Modern inspections with new technology”, em Haia, focado na discussão sobre tecnologias nos serviços de inspeção. Não somente empresas, mas profissionais do governo e pesquisa apresentaram propostas ou resultados da implantação de soluções baseadas em inteligência artificial, sensores, drones ou outras inovações. Os controles estão cada vez mais apurados, tanto para questões de segurança de alimentos e rastreabilidade quanto no âmbito de bem-estar animal e questões ambientais.
Um projeto financiado pela Horizon Europe, e executado pelo Flanders Research Institute for Agriculture, Fisheries and Food, sediado na Bélgica, possui o foco do bem-estar animal em frangos e suínos. Estas cadeias são de grande relevância frente ao consumidor europeu, estão entre as que mais suscitam preocupações no padrão de produção. O projeto ainda está em fase piloto para monitorar o estresse causado na criação de suínos e aves, da propriedade rural ao abate. Aliados a câmeras e sensores, eles podem identificar até o lacrimejamento em suínos, além de outros parâmetros, como gases, que são também indicadores de bem-estar. A ideia é desenvolver indicadores para uso de qualquer parte interessada, de forma a monitorar o bem-estar e impactos ambientais na criação de suínos e frangos de corte.
Na esfera privada, há iniciativas muito interessantes como a otimização da linha de inspeção no abate. Por meio de câmeras, que possuem sensores, podem identificar alterações em órgãos e carcaças ou contaminações. O trabalho visual de inspeção é otimizado pelas análises das imagens, que rapidamente, utilizando ferramentas baseadas em inteligência artificial, identificam os problemas encontrados em diferentes órgãos que são indicadores de enfermidades. Tal solução não dispensa o responsável, que fará uma análise das imagens antes da definição de tomadas de ações.
Outras empresas apresentaram propostas para detecção de fragmentos ósseos na carne, ou promotores de crescimento (algo proibido na UE) em amostras de urina. Há também empresas que monitoram por meio de câmeras e sensores, com uso da inteligência artificial, todo o abate, em suas distintas fases, inclusive o comportamento humano, de forma a garantir que o bem-estar animal seja aplicado corretamente. Mesmo longe do abatedouro, o responsável recebe as informações processadas, indicando se os procedimentos foram realizados de forma correta.
Estas ferramentas serão muito importantes como complementares aos processos de certificação, para garantirem a transparência da produção ao processamento. O Brasil tem muitas oportunidades à frente, especialmente com a consolidação do acordo do Mercosul-União Europeia. Há barreiras devido a desconfiança do consumidor, em relação a cumprimentos de requisitos ambientais e sanitários. Com as inovações, esta distância poderá ser mitigada.