Começamos o ano com a ameaça de termos parte da produção do suco cítrico brasileiro proibido de ingressar nos Estados Unidos. Trata-se, neste caso, de uma “ tempestade em copo de laranja “. Primeiro que os Estados Unidos, representa 15% do consumo brasileiro. 85% da nossa produção vai para outros mercados. Do ponto de vista da segurança alimentar, a produção brasileira segue os rígidos padrões internacionais e atuamos dentro da lei. Tanto internacional, como local. O fungicida Carbendazin, atua contra a pinta preta, que deixa a laranja não estética. O “codex alimentar“ aceita universalmente em torno de 1.000 partes por bilhão dos resíduos desse químico. Exportamos para a Europa que tolera 200 partes; o Canadá 1.000. O Ministério da Agricultura do Brasil, determina até 5.000 partes por bilhão e o Japão aceita até 3.000. Os Estados Unidos aceitavam da mesma forma até 2009, quando numa intervenção da EPA, a agencia ambiental, definiram tolerância zero nesse item. Porém, continuaram recebendo as produções brasileiras, que apresentam em média indicadores em torno de 30 partes por bilhão. A pulverização do Carbendazin foi proibida nos Estados Unidos, mas o tema não foi incluído nos registros do Safety Concern, tanto é que o produto continua sendo usado pelos americanos na produção de maçã, pêssego, morango e outros. A proibição foi exclusiva para a citricultura americana.
O assunto atual é que uma companhia processadora levantou a questão para o FDA, que lendo a nova regra, informou que a tolerância era zero. Essa nota foi levantada e a industria brasileira já esteve em reunião com os técnicos americanos, para condução da questão em vias racionais. Isso quer dizer, aceitar dentro das faixas atuais em torno de 30 partes por bilhão.
O mais grave da história, não é o aspecto técnico do assunto é o problema do ponto de vista de marketing. O suco de laranja vem caindo á média de 1,6 % seu consumo nos últimos anos, e na década passada caiu 25% nos Estados Unidos, o maior mercado consumidor do mundo, representando isoladamente 40% do globo.
Claro que uma noticia dessas, correndo o mundo e envolvendo o publico leigo sobre o assunto, só irá ferir ainda mais as ações de retomada de mercado que o ramo já realiza agora junto aos consumidores. Inclusive a CitrusBr que age com uma campanha de comunicação na Europa, sendo bem recebida: ‘ I feel orange “.
Sobre a possibilidade de não vendermos para os Estados Unidos, considero impossível, pois 80% do suco americano é “ blendado “ com a produção brasileira. A curto prazo haveria estoque para a oferta americana continuar, mas a médio e longo prazo os efeitos de alta nos preços e a escassez da oferta versus a demanda, terminariam por paralisar a industria daquele pais.
Com certeza, trata-se de mais um tema onde a razão e o bom senso irão prevalecer. O que vale para a industria citrícola é criar de fato o CONSENCITRUS, colocando seus agentes todos em harmonia, e continuar vendendo mais, como o ocorrido em 2011, com negócios de cerca de US$ 2.200 bilhões, o record nos últimos 10 anos. Além disso, é vital aproximar o setor da ciência e da pesquisa brasileira objetivando sustentabilidade real e factível; continuar com maior ênfase fazendo marketing e melhorando o seu nível de diálogo com a sociedade, caso contrário sempre haverá o risco de “tempestades em copos de laranja“, terem a possibilidade de serem transformados em tsunamis na industria.
Jose Luiz Tejon Megido
Dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM
Diretor Vice Presidente de Comunicação do CCAS