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Trabalhar com pesticidas usando as Boas Práticas Agrícolas causa câncer?


Por Angelo Zanaga Trapé, Professor-doutor aposentado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)


Há estudos que sugerem uma associação entre a exposição a pesticidas e o risco de desenvolver certos tipos de câncer, mesmo quando são seguidas as chamadas Boas Práticas Agrícolas (BPAs). As BPAs incluem medidas como o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), manipulação adequada dos produtos químicos e aplicação controlada e responsável dos pesticidas.
 

Estudos e Revisões Científicas

Estudos epidemiológicos indicam que mesmo agricultores que seguem as BPAs ainda podem estar em risco aumentado de desenvolver câncer. Por exemplo:

1.            Estudo da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC): Em 2015, a IARC classificou o glifosato como "provavelmente cancerígeno para humanos" (Grupo 2A). Esse risco foi observado mesmo em situações de exposição controlada, como no caso de agricultores que aplicam o produto seguindo as BPAs. Apesar desse posicionamento da IARC a ANVISA manteve o registro do glifosato assim como a Comunidade Europeia e diversos outros países

2.            Agricultural Health Study (AHS): Um estudo de grande escala conduzido nos Estados Unidos acompanhou agricultores e seus familiares por várias décadas. Ele identificou uma correlação entre o uso prolongado de pesticidas e o aumento na incidência de alguns tipos de câncer, mesmo quando as BPAs eram seguidas. Identificar correlação em estudos longitudinais não indica necessariamente nexo causal pois diversas variáveis confundidoras estão sempre presentes como hábitos de vida tabagismo etilismo genética medicamentos patologias prévias entre outras
 

Limitações e Considerações

Embora as BPAs reduzam significativamente o risco de exposição, elas não eliminam completamente a possibilidade de contato com resíduos de pesticidas. Fatores como a contaminação ambiental, a presença de resíduos nos alimentos e o efeito cumulativo ao longo dos anos também devem ser considerados.

Portanto, embora as Boas Práticas Agrícolas sejam fundamentais para reduzir o risco de doenças associadas ao uso de pesticidas, evidências científicas sugerem que ainda há um risco potencial de câncer para trabalhadores rurais expostos, mesmo quando as práticas adequadas são seguidas.
 

Mas Risco Potencial significa Risco Real?

Risco potencial e Risco real são conceitos diferentes:

Risco Potencial: Refere-se à possibilidade de que algo possa causar dano sob certas condições. No contexto dos pesticidas, o risco potencial é o que se observa em estudos laboratoriais, epidemiológicos ou teóricos, que indicam que a exposição a uma substância pode causar câncer em determinadas situações.

Risco Real: Refere-se à probabilidade concreta de ocorrer um efeito adverso em condições específicas e práticas cotidianas. Para determinar o risco real, são consideradas variáveis como o nível de exposição, a frequência, o tempo de exposição e se medidas de proteção (como as Boas Práticas Agrícolas) são eficazes em minimizar ou eliminar o risco.

Mesmo com o risco potencial identificado em estudos, o risco real para indivíduos que seguem rigorosamente as Boas Práticas Agrícolas é geralmente muito menor. No entanto, isso não significa que o risco seja nulo. A questão está na exposição prolongada e acumulativa, e em eventuais falhas na aplicação dessas práticas.

Em resumo: enquanto o risco potencial indica que há uma possibilidade teórica ou observada de que pesticidas possam causar câncer, o risco real depende das condições práticas de exposição no dia a dia e da efetividade das medidas preventivas adotadas.

Portanto a avaliação clínica é fundamental para a determinação de nexo causal entre o agente químico, no caso os pesticidas, e o tipo de câncer diagnosticado na pessoa.

O INCA (Instituto Nacional do Câncer) indica que o câncer de mama em mulheres e o de próstata em homens são os de maior incidência no país.

De acordo com a IARC já citada anteriormente para câncer de mama os agentes carcinogênicos com evidências suficientes em humanos são:

Bebidas alcoólicas

Dietilestilbestrol

Contraceptivos orais

Terapia hormonal para menopausa

Radiação X e gama

Não há evidências de algum pesticida segundo a agência da OMS (Organização Mundial da Saúde) em relação ao câncer de próstata segundo a IARC não há nenhum agente carcinogênico com evidências suficientes em humanos e nenhum pesticida e isto se dá em relação a outros órgãos humanos, ou seja, sem evidências de pesticidas e câncer.

Finalizando, de acordo com o método em Toxicologia e os dados das agências internacionais e nacionais de saúde pode-se concluir que o uso seguro e adequado da tecnologia agroquímica na agricultura não é determinante de qualquer tipo de câncer à luz dos conhecimentos atuais.


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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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